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A Igreja e a Crise Teológica: Como Conheci a Doutrina Unicista

Paz de Consciência em Meio a Polêmicas Teológicas

Introdução

Em que consiste a crise teológica?

Seria apenas uma divergência doutrinária entre denominações? Ou algo mais profundo — uma ruptura entre o que se crê, o que se vive e o que se lê nas Escrituras?

Como manter a paz de consciência diante de polêmicas teológicas que dividem irmãos em Cristo?

Neste artigo, compartilho como essa crise deixou de ser uma abstração teórica e tornou-se uma experiência pessoal. Uma jornada marcada por inquietações, descobertas e confrontos com tradições que, por vezes, pareciam distantes da simplicidade do evangelho.

Compartilho minha jornada pessoal — desde a tradição assembleiana até o conhecimento da doutrina unicista — e proponho reflexões bíblicas para lidar com divergências doutrinárias sem perder o amor e a unidade.

Minha Jornada Pessoal

Infância e formação religiosa: Nasci em um lar evangélico, na tradição assembleiana, e cresci aprendendo sobre a doutrina da trindade, que afirma a existência de três pessoas em um único Deus.

A juventude da igreja, os adolescentes e o grupo de senhoras, cantavam hinos como “Sangue Cor Púrpura,” “Quarta Dimensão (Eis que vejo os céus abertos)” e “A Hora do Salvador,” de autoria do conjunto musical Voz da Verdade.

Descoberta da polêmica: Em meados de 1997, aos meus 12 anos, ouvi meu pai comentar que a revista de Escola Dominical da CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus) considerava o ministério Voz da Verdade uma seita, ou seja, uma religião falsa, pois não acreditava na doutrina da trindade.

Enviei cartas, recebi estudos, ouvi CDs e compartilhei tudo com minha família. A doutrina unicista, antes desconhecida, passou a fazer parte da minha vida espiritual.

Busca por respostas: A partir daquele momento, comecei uma luta pessoal para compreender o significado dessa “bomba” religiosa. Seria possível que meus amados irmãos e cantores abençoados fossem parte de uma seita?

Enviei cartas tanto para o conjunto Voz da Verdade quanto para a CPAD, solicitando informações.

Recebi a resposta da CPAD com um estudo do ICP (Instituto Cristão de Pesquisas) anexado, que apontava o conjunto Voz da Verdade como uma seita e apresentava os argumentos.

Também recebi um CD do Pastor Carlos Alberto Moyses, que continha um estudo sobre a doutrina unicista intitulado “O MISTÉRIO DE DEUS: CRISTO,” abordando os seguintes tópicos: O que Deus diz de si mesmo; Quem é Jesus; e, O batismo nas águas. Esses tópicos eram precedidos por três músicas: “Imagem de Deus,” “Tu Me Amas?” e “Deus Conosco.”

Li todo o material apostilado e também ouvi o CD diversas vezes. Todo esse conteúdo também foi compartilhado com minha família e irmãos mais próximos da igreja.

Transformação: A partir daí, muitos, como eu, ficaram primeiramente decepcionados, procurando conhecer o que prega a doutrina unicista.

Após anos de pesquisa, reconheci não ser a doutrina unicista uma heresia, questionando o que aprendi sobre a trindade. Tal questionamento nos tira do que “a maioria acha”, levando-nos ao crescimento no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.

Isso não é apostasia e nem rebeldia, pois os que não têm compromisso com a Palavra de Deus, não doam seu tempo nessa busca.

Esse episódio marcou minha caminhada cristã e continua relevante, pois nos convida a refletir sobre o que realmente está escrito na Palavra de Deus.

Ortodoxia ou Bíblia?

Há uma diferença essencial entre o cristianismo histórico e o cristianismo bíblico. O primeiro carrega o peso de tradições e concílios; o segundo, a leveza da simplicidade de Cristo e a autoridade das Escrituras.

O cristianismo bíblico é o bom depósito da fé (2Tm 1.14), o bom combate (2Tm 4.7), a simplicidade que há em Cristo (2Co 11.3) e a aparente loucura da pregação (1Co 1.21,23). Loucura, sim — pois parece insano que o Deus Todo-Poderoso se importe com o homem mortal a ponto de fazer-se homem, e homem de dores, para conduzir muitos filhos à glória.

O cristianismo histórico, por sua vez, revela o que muitos líderes acrescentaram à mensagem original. A igreja, em sua quase totalidade, recebeu essas mudanças sem questionar, punindo os dissidentes com fogo e silêncio.

A Reforma Protestante foi necessária porque a ortodoxia se afastou da essência do evangelho. Mesmo após esse rompimento, as cicatrizes permaneceram. Ainda hoje, tradições persistem — tradições que não foram deixadas por Jesus nem por seus apóstolos.

Trindade e Unicismo: Um Debate Honesto

Ao estudar a doutrina da trindade, percebi que o termo não aparece na Bíblia e sua compreensão requer a interpretação de vários textos sem contexto adequado.

Muitos argumentos contra o unicismo são equivocados. Os unicistas não negam o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Tampouco rejeitam o plano de salvação. Jesus Cristo é o Salvador!

Os debates: Nos debates que travamos, percebi que as discussões não se limitavam aos unicistas, mas também envolviam os unitaristas — como as Testemunhas de Jeová (TJ's). Isso me fez repensar profundamente minha visão. Para elas, pude afirmar com convicção que Jesus é Deus, citando textos como: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30) e “Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20).

Duplo argumento: Algo me inquietava: ao defender a Trindade, ora argumentava como unicista, ora como testemunha de Jeová. Era um duplo discurso. Não podia mais permanecer em cima do muro. Este padrão se repete, como segue:

Em discussões com unicistas, trinitarianos assumem uma postura subordinacionista (similar à das Testemunhas de Jeová).

Em debates com as Testemunhas de Jeová, trinitarianos adotam argumentos unicistas.

Confrontados argumentativamente, trinitarianos podem inclinar-se ao triteísmo (crença em três pessoas de igual poder) ou ao misterismo (a trindade é um mistério inexplicável).

Autoridade papal: Outra observação que fiz é que os defensores da Trindade frequentemente recorrem à autoridade dos chamados “pais da igreja” ou papas. Já os unicistas, baseiam-se exclusivamente nas Escrituras e nos ensinamentos apostólicos.

Dizem que o Papa Dionísio derrotou o sabelianismo — ou seja, um trinitário expulsou um unicista. Mas Dionísio, que enfrentou Sabélio, também enfrentaria qualquer trinitário moderno por não reconhecer Maria como parte da Trindade.

O que deveria estar em questão não é quem venceu quem, mas o que a Bíblia diz. De que lado está a verdade?

A doutrina unicista, por sua vez, elimina tanto o triteísmo quanto o subordinacionismo. É arma poderosa em Deus para destruir fortalezas, argumentos e toda a pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo o pensamento, para torná-lo obediente a Cristo (2 Coríntios 10:4 NVI).

Como cheguei a essas conclusões? Creio que Deus se revela àqueles que o buscam. Essa revelação transcende tradições humanas. E para quem ainda tem dúvidas, aconselho: abrace a revelação bíblica com humildade e coragem.

Testemunhos que Falam Alto

Conheci histórias de pessoas transformadas por Jesus — o mesmo Jesus que alguns chamam de “Jesus de uma seita”. Cura, libertação e salvação vieram por meio dEle. Isso me fez refletir: se os frutos são bons, a árvore não pode ser má.

O pastor Fued teria sido salvo de uma vida boêmia pelo Jesus de uma seita?

O pastor Carlos teria recebido a cura de câncer no joelho por parte do Jesus de uma seita?

A pastora Rita teria se convertido dos ídolos ao Jesus de uma seita?

A Beth foi tirada de um instituto psiquiátrico pelo Jesus de uma seita?

A Lydia recebeu livramento de morte em 2006, pelo Jesus de uma seita?

Se esse Jesus, da seita dos nazarenos é tão bom, não pode ser outro, senão o Jesus bíblico (Atos 24.5).

O Amor em Primeiro Lugar

Jesus nos ensinou que o maior mandamento é amar a Deus e ao próximo. Mesmo diante de divergências doutrinárias, o amor deve prevalecer.

O mundo reconhecerá os discípulos de Cristo pelo amor que demonstram uns pelos outros (João 13.35).

A Bíblia, fonte da verdade

Devemos lembrar que a Bíblia é nossa fonte de autoridade e verdade. Ela é a Palavra de Deus, inspirada pelo Espírito Santo e infalível em tudo o que ensina (2 Timóteo 3.16-17).

Se deixarmos a Bíblia falar, teremos paz e serenidade ao responder os questionamentos que porventura surjam.

Portanto, devemos nos esforçar para estudá-la com diligência e interpretá-la corretamente.

Discernimento e Diálogo

Ao nos depararmos com polêmicas teológicas, devemos buscar a orientação do Espírito Santo — aquele que nos guia em toda a verdade (Jo 16.13).

A oração é nossa ponte. O diálogo, nosso caminho. E o amor, nossa linguagem.

Tiago nos exorta: “Sejam prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tg 1.19-20).

Estar abertos ao diálogo, não significa que devemos abdicar da verdade, mas procurar entender e solucionar conflitos civilizadamente.

Conclusão

No céu, não haverá placas denominacionais. Estarão lá os lavados no sangue do Cordeiro — trinitarianos, unicistas, calvinistas, arminianos. O que importa é que todos façam tudo para a glória de Deus.

Que nossas convicções não nos afastem do amor, nossas doutrinas não nos impeçam de ouvir, e nossa fé seja sempre guiada pela Palavra e pelo Espírito. E que, acima de tudo, sejamos pacificadores — porque deles é o Reino dos Céus.

Deus vos abençoe!


📚 Leia mais sobre a doutrina unicista no site do Ministério Voz da Verdade

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