Lições de Eclesiastes: A Busca Pelo Propósito

Lições de Eclesiastes: A Busca Pelo Propósito

O Livro de Eclesiastes, cujo autor se identifica como o Pregador (qoheleth), que significa “alguém que reúne uma assembleia para ouvi-lo falar”, transcende a mera literatura sapiencial para se estabelecer como um profundo tratado sobre o sentido da existência humana.

Tradicionalmente atribuído ao rei Salomão (“filho de Davi, rei em Jerusalém”), o livro é, na verdade, um registro da busca por satisfação que o homem encontra ao olhar para a vida com uma perspectiva puramente terrena.

Ainda que o livro apresente oscilações entre o pessimismo e a confiança, e utilize o artifício literário de colocar suas palavras na boca de Salomão, ele propõe uma mensagem central que é simultaneamente desanimadora e libertadora.

O Veredicto Sob o Sol: Vaidade de Vaidades

A tese central do Pregador é declarada logo no início: “Vaidade de vaidades! É tudo vaidade”. A palavra hebraica hebhel, traduzida como “vapor” ou “sopro”, confere à vida uma conotação de transitoriedade, futilidade, ou de algo “sem alvo e vazio”.

Essa conclusão pessimista é o julgamento de Qoheleth sobre as experiências de quem vive “debaixo do sol”, ou seja, cuja visão é totalmente terrena e secular:

  1. A Busca Intelectual e Material: A busca pela sabedoria e o teste do prazer e do trabalho e das posses resultam em frustração. Após realizar grandes obras e acumular tudo que o dinheiro podia comprar, o Pregador conclui que “tudo era vaidade e aflição de espírito”.
  2. A Monotonia da Natureza: Ao observar o sol, o vento e os ribeiros em seus ciclos incessantes, o autor conclui que toda a atividade da natureza é “enfadonha”, “cansativa” e sem propósito último.
  3. A Injustiça da Morte: A fé do Pregador vacila quando ele percebe que o sábio e o tolo têm o mesmo destino na sepultura, e que “nunca haverá mais lembrança do sábio do que do tolo”. É essa “obsessão quase louca de Qoheleth com a morte” que destrói a sua fé, levando-o a concluir que os mortos “não sabem coisa nenhuma” do que se passa na terra.

Soberania e Moralidade em um Mundo Ambíguo

Apesar de seu ceticismo, o Pregador reconhece a mão de Deus agindo na história e na ordem universal.

  • O Mundo Ordenado: O livro apresenta um “Poema de um Mundo Bem Ordenado”, reconhecendo que “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. O autor lista uma série de ações humanas (tempo de plantar, de matar, de amar, etc.) que ocorrem em uma ordem que, embora complexa, é divinamente estabelecida.
  • A Injustiça Moral: Qoheleth se angustia ao ver que nas cortes, onde deveria haver justiça, havia impiedade. Ele luta para conciliar esse mal com a fé em um Deus justo.
  • O Ponto de Virada: A fé do autor se fortalece quando ele compreende que Deus “julgará o justo e o ímpio” “em seu tempo”, e que “o homem não pode descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim”. Deus planejou o mundo para atrair os homens para si, para haver temor diante dele.

Atualidade e Aplicações Práticas ao Homem Contemporâneo

Para o leitor contemporâneo, a mensagem de Eclesiastes é altamente relevante, por abordar as frustrações comuns na sociedade moderna. O livro ensina a melhor maneira de “melhor investir na vida”, não através do acúmulo, mas do engajamento e da perspectiva.

  1. Aproveite as Alegrias Simples: Uma das conclusões mais elevadas do Pregador é que o homem deve “comer e beber e descobrir o prazer em todo o trabalho”. Ele deve “alegrar-se” e “viver alegremente sua vida inteira”, pois a capacidade de aproveitar a vida é um “dom de Deus”.
  2. Generosidade e Diligência: O Pregador desaconselha a vida egocêntrica, pois ela não compensa, e aconselha a generosidade. Em um mundo de incertezas, é fundamental ser diligente no trabalho, pois quem “observa o vento” (espera pela certeza total) “nunca semeará”.
  3. Riqueza e Propósito: A riqueza é uma “bênção ambígua”. “O que amar o dinheiro nunca se fartará de dinheiro”, pois a acumulação é frustrante e o homem “não pode levar nada do seu trabalho com ele” ao morrer. O conselho é “apegar-se à riqueza frouxamente”.
  4. A Perspectiva da Eternidade: O conselho mais importante para o jovem é: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade”. Essa lembrança é essencial, pois a juventude é “vaidade” no sentido de não durar para sempre.

Reflexão

A conclusão mais sábia do livro supera o pessimismo de quem vive “debaixo do sol”, apresentando um veredicto ético: “Teme a Deus e guarda os seus mandamentos, porque este é o dever de todo homem”. A vida só é fútil para aqueles que a vivem sem propósito eterno.

Conclusão

O Livro de Eclesiastes funciona como um diagnóstico de máquina. Ele liga o aparelho da vida e mede todos os seus indicadores — intelecto, riqueza, trabalho, prazer.

O diagnóstico demonstra que todos os indicadores são altos, mas a máquina continua falhando.

A falha, ele conclui, não está nas peças ou no esforço, mas na ausência do propósito de Deus, o qual é o único manual que explica o valor de todos os componentes.

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Referência
Comentário Bíblico Beacon Vol.3 - Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD. 1ª edição, 2005.

Samuel dos Santos Mafra

Samuel Mafra, graduado em Gestão da Tecnologia da Informação pelo Centro Universitário FAVIP WYDEN, especialista em Cibersegurança e Gestão Hospitalar. Cursando segunda graduação em Teologia pela Faculdade Estácio. Alvo: Seguir carreira em tecnologia e teologia concomitantemente, reconhecendo haver um ponto final para todas as funções terrenas (Eclesiastes 3.1,2), ao passo que a vida com Jesus Cristo jamais terá fim (João 11.25,26).

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