O Livro de Jó: A Prova da Integridade
O Livro de Jó é a mais destacada obra na literatura mundial a abordar o problema e o significado do sofrimento humano. Ele narra a vida de um homem que, embora fosse rico e reto, foi submetido a uma série de calamidades que testaram a sua integridade.
A jornada de Jó, marcada por perdas catastróficas e uma restauração gloriosa, oferece profundas lições para o cristão sofredor da atualidade.
O Retrato da Prosperidade Antes da Perda
Jó é apresentado como um cidadão rico e reto da terra de Uz. Sua vida era marcada pela felicidade, prosperidade e piedade plenas. A avaliação sobre seu caráter não vinha de homens, mas do próprio Deus, que o descreveu como sincero, íntegro e reto.
A riqueza de Jó era medida por seus rebanhos e manadas. Ele possuía um vasto número de bois, jumentas, ovelhas e camelos. Sua família consistia em filhos e filhas, e a prosperidade material era considerada um sinal do favor excepcional de Deus.
Em sua devoção, Jó oferecia continuamente holocaustos pelos seus filhos, na eventualidade de terem pecado inadvertida ou secretamente.
A Prova Esmagadora: As Perdas Sequenciais
O prólogo do livro revela o cenário celestial que desencadeou o sofrimento de Jó. Satanás, o Adversário, comparece diante de Deus. O Adversário questiona se Jó temia a Deus debalde, sugerindo que sua lealdade era comprada pelas recompensas materiais.
Deus, então, permite que Satanás o teste, impondo um limite: a vida de Jó deveria ser poupada. As calamidades se abateram sobre Jó em uma rápida sequência, abrangendo ataques humanos, forças da natureza e perdas pessoais.
As Perdas:
- Perdas Humanas e Materiais: Seus bois e jumentas foram roubados por sabeus, uma tribo árabe, e seus servos que cuidavam deles foram mortos. Seus camelos foram roubados por três bandos de caldeus, com a morte de mais servos.
- Perdas da Natureza: Um fogo de Deus (provavelmente raios) matou suas ovelhas e os servos responsáveis.
- Perda Total da Família: Um grande vento (redemoinho ou furacão vindo do deserto) destruiu a casa onde seus filhos e filhas estavam reunidos, matando todos eles.
- Perda Pessoal e Espiritual: Satanás feriu Jó com uma chaga maligna (uma doença de pele séria, como elefantíase). Sua esposa, também sobrevivente das perdas, sugeriu que ele amaldiçoasse a Deus e morresse.
Apesar de toda a dor, Jó manteve sua integridade básica. Ele demonstrou seu luto rasgando o manto e rapando a cabeça, mas se prostrou em terra e adorou, declarando: "O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor". Ele não pecou com os seus lábios.
Seres da Criação e a Manifestação Divina
Durante o longo debate sobre o significado do sofrimento, a narrativa de Jó introduz outros seres, sejam eles humanos, espirituais ou parte da criação de Deus.
- Seres Humanos (Conselheiros): Após o ataque inicial, Jó recebeu a visita de três amigos (Elifaz, Bildade e Zofar), que vieram para consolá-lo. Um jovem chamado Eliú também interveio na discussão, ressaltando o valor disciplinador do sofrimento.
- A Manifestação de Deus: Deus, o Javé dos hebreus, finalmente se manifesta no meio da tempestade (redemoinho). Em sua resposta a Jó, Deus demonstra seu poder soberano e sua sabedoria sobre o universo.
- A Natureza e as Criaturas: Deus interroga Jó, mostrando a complexidade da criação, citando constelações como a Ursa, Orion e Sete-estrelo. Ele se refere a diversos animais selvagens, como o leão, corvo, cabras-monteses, corças, jumento bravo, gavião e íbis. Além disso, Ele descreve o Beemote (entendido como hipopótamo ou animal imaginário) e o Leviatã (associado a um crocodilo ou monstro mítico), criaturas cuja força é incomparável humana.
O Triunfo e a Restauração
Os Ganhos: O desejo de Jó por uma audiência com Deus foi atendido, embora não da maneira esperada. Ao ver a glória e o poder de Deus, Jó foi humilhado e se arrependeu no pó e na cinza de... suas palavras e atitudes presunçosas.
Ele percebeu que a confiança humilde em Deus é a única posição razoável, pois os caminhos de Deus estão além da compreensão humana e Ele é plenamente digno de confiança absoluta. Jó admitiu que seu conhecimento anterior de Deus era limitado (somente por ouvir dizer), mas que agora, seus olhos O viam.
A Restauração:
- Riqueza Duplicada: A prosperidade anterior de Jó foi duplicada.
- Restabelecimento da Família: Ele recebeu o mesmo número de filhos (sete) e filhas (três). Suas filhas foram notáveis, pois em toda a terra não se acharam mulheres tão formosas como as filhas de Jó, e ele lhes deu herança junto com seus irmãos.
- Longevidade: Jó viveu uma vida longa e feliz, mais 140 anos após sua provação, e morreu velho e farto de dias.
Aplicação Prática para o Cristão Sofredor
O livro de Jó não fornece uma resposta simples para o motivo pelo qual o homem sofre. Contudo, ele oferece um poderoso modelo de fé para o cristão sofredor dos dias atuais.
Lições Principais:
- A Integridade é o Foco, Não a Recompensa: Assim como Satanás questionou se Jó servia a Deus por interesse, o cristão moderno é lembrado de que a verdadeira devoção deve ir além do interesse próprio. A fé do patriarca Jó persistiu mesmo quando ele perdeu tudo, provando que sua integridade era genuína.
- Dúvida e Confissão: Jó expressou abertamente seu desespero e chegou a acusar Deus de agir injustamente. No entanto, seu ponto de virada foi a humildade e o arrependimento. Para o crente, a dúvida pode surgir, mas a solução está sempre em buscar a Deus e confessar a fraqueza humana.
- A Soberania de Deus é Suficiente: Jó não conseguiu entender a causa de seu sofrimento, mas ele aprendeu que os caminhos de Deus estão além da capacidade de compreensão humana. A fé não exige entender o porquê, mas sim confiar que Deus, o Criador e Sustentador do universo, é justo.
O Comentário Bíblico Beacon observa que a confiança humilde em Deus é a única posição razoável que o homem pode ter. A história de Jó é um lembrete de que, mesmo quando a miséria persiste, a esperança pode crescer na alma e produzir uma fé persistente. No final, a paciência de Jó foi coroada, mostrando que o sofrimento imerecido não precisa ser perpétuo depois que o propósito divino é alcançado.
Referência
Comentário Bíblico Beacon Vol.3 - Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD. 1ª edição, 2005.